segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Conquista do Belo




E eu menos a conhecera mais a amara? Sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela O que é uma coisa bela? (Caetano Veloso – O Estrangeiro)


Filha dileta da revolução industrial, a indústria cultural impõe os seus projetos, mas também abriga e se alimenta de quem a contesta. A pergunta é: qual a semelhança entre Roberto Carlos e Elvis Presley? O que Caetano Veloso tem a ver com isso? O rock já nasceu vendido?
Seus pop stars já surgiram imersos na efemeridade. Outros não morrem nunca. São reis e suas coroas jamais serão repassadas, porque, nem mesmo o rock de Jerry Lee Lewis conseguiu evitar a consumação do instantâneo e da vulgaridade. Ou da banalidade. Ou de ambos.

Pelo contrário. O seu rock visceral abriu o caminho para o clichê, que se repete não só na música, mas nas artes em geral. E não só no rock, mas em todo e qualquer estilo que venda, que gere frisson. Que o consumidor o deseje mais que a si mesmo. E se deleite. E se perca em si mesmo, sem chances de encontrar a saída.

O muro está só na metade da alma. O incauto provedor do sistema (porque sem o incauto o sistema não funciona muito bem) colabora para a permanência desse estado. E segue o incauto, fazendo filhos, acordando cedo, trabalhando muito. Ganhando pouco. Enquanto escuta no rádio a canção preferida (Love me tender ou Detalhes?). Ou sofre com conturbados amores indianos televisivos. Onde as pessoas viajam como num passe de mágica para outro continente. Como quem vai à esquina.

Dá até vontade de ir à Índia. Comer currie e tudo o mais. Agora, o que é que se tem prá fazer demais na Índia? Um país com cerca de 1,080 bilhões de pessoas (dados de 2005) e muitos, muitos problemas. Parece até com o nosso país... É um gigante em pleno desenvolvimento econômico, mas cheio de famintos e miseráveis que, apesar da riqueza eminente, não exerce uma política eficiente que consiga amparar o seu cidadão.

Com agravantes, pois se trata de um país que execra seus delatores, como aconteceu com as crianças que atuaram no filme Slumdog Millionaire. A pequena Rubina Ali, de 9 anos, está ameaçada de ser vendida pelo pai. Assim como Azharuddin Ismail, também ator-mirim do filme vencedor de 8 Oscars, ela teve a casa destruída numa favela de Mumbai. Diz a imprensa que é por causa do filme que retrata a infeliz situação de milhões de “dalitis” que povoam a Índia. E tem um monte de brasileiro querendo conhecê-la. Comer currie. Andar de elefante. E a nossa casa caindo!

Caindo, levantando, caindo de novo... Mas, pelo menos não destruímos casas de celebridades. Melhor. Nós ainda ajudamos a construí-las. Pois somos solidários que estendem a mão para uma nação excludente. Que, sem memória, segue rumo às micaretas e raves. Com direito a sexo, drogas e diversão.

E muita, muita exposição. Na grande mídia, de preferência. Gerando cidadãos que se escondem no gueto da fama alheia. Que perdura por 15 efêmeros minutos. O suficiente para se sentirem reis. Sem grana, mas com fama! É só virar seguidor no Twitter. Postar fotos no Orkut. Bater papo pelo MSN. E está tudo resolvido. O mundo é redondo e cabe numa garrafa de Coca-Cola. Onde o belo só habita nas suas muito bem elaboradas propagandas.

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